O êxito do ténis juvenil sintrense
O nosso entrevistado nasceu em Lisboa no ano de 1960. Iniciou a prática da modalidade aos 13 anos, no Centro de Ténis de Monsanto passando, em 1979, a evoluir no Clube Internacional de Football, que considera o seu clube de eleição. Foi jogador de competição entre 1976 e 1988, iniciando paralelamente as actividades de monitor e professor de ténis a partir de 1981. Actualiza-se através da frequência de vários cursos e simpósios organizados pela Federação Portuguesa de Ténis, iniciando a carreira de treinador em 1988. Com experiência empresarial ao nível da gestão de equipamentos desportivos, foi co-fundador, com Luís Flores Marques, de vários clubes, escolas de ténis e grupos desportivos. Organizador de múltiplos eventos desportivos, criou em 1990 o Projecto Eastern – Formação e Apoio ao Ténis de Competição. Exerce as suas actuais funções de coordenação no Complexo Desportivo Municipal de Sintra, ao serviço do Centro de Cultura e Desporto Sintrense, desde o ano de 2002.
António Sabugueiro e João Carlos Santos, uma equipa ganhadora
«Jornal de Sintra»: Considerado um desporto próprio para ambos os sexos e todas as idades, o ténis é hoje uma das modalidades com maior número de praticantes a nível mundial. A sua já longa ligação à modalidade permite- lhe datar os períodos de maior evolução do ténis entre nós?
João Carlos Santos: Dois grandes períodos: antes de Abril de 1974, que considero de paulatina evolução, onde o célebre David Cohen marcou a diferença, e o percurso de 1979 até à actualidade, que considero de plena e sucessiva revolução a todos os níveis.
JS: Quais os factores determinantes na evolução do ténis português?
JCS: A democratização do ténis como modalidade desportiva individual e, a partir dos anos 90, a maior especialização em todos os domínios modalitécnicos que a modalidade comporta.
JS: Que importância atribui aos resultados internacionais obtidos por alguns (poucos) jovens jogadores portugueses no aumento de adeptos e praticantes?
JCS: A importância dos resultados é sempre directamente proporcional, ou seja, quanto mais e melhores resultados, maior será o número de futuros atletas a querer seguir os mesmos exemplos; no ténis ou noutra modalidade desportiva que pratiquem.
JS: Frederico Gil, o tenista sintrense, natural de Colares, com 24 anos, profissional desde os 17, referiu há cerca de um mês, aquando da sua eliminação na ronda inaugural do torneio de Wimbledon, ainda lhe faltar mais experiência para conviver e competir àquele nível. É possível prever quando um jogador, mesmo com uma boa classificação no «ranking» ATP, atingirá a maturidade que potencie definitivamente a consistência do seu jogo?
JCS: São imensas as variáveis. Não se trata propriamente de «ranking», mas sim do material genético de que é constituído. Em termos gerais, a plenitude de um jogador de alta competição regista- se entre os 24 e os 27 anos. No entanto, não é uma regra absoluta. O ténis comporta inúmeros casos em que a longevidade etária coabitou de forma plena com o mais alto nível de exigência competitiva; cito apenas dois exemplos: Jimmy Connors e Martina Navratilova, pois ambos chegaram aos 40 anos em excelente forma física e com um coeficiente psicológico considerável, o que lhes permitiu permanecer nos lugares cimeiros do «ranking» mundial.
JS: Em sua opinião, quais são os melhores jogadores portugueses de todos os tempos?
JCS: Tenho de citar vários que foram marcantes: elejo, desde já, José Roquette e Leonor Peralta, ambos pela admirável consistência de resultados desportivos à época e que perdurarão no tempo; Alfredo Vaz Pinto, pela sua espantosa tecnicidade, que fez escola e influenciou de forma marcante as gerações seguintes; Miguel Soares, em minha opinião o grande precursor do ténis de ataque pleno e o primeiro jogador português a obter pontos ATP; Sofia Prazeres, a jogadora que estabeleceu a diferença marcante entre o antes e o depois da sua era no panorama feminino; e, obviamente, os jogadores Nuno Marques e João Cunha e Silva, os verdadeiros precursores do profissionalismo além-fronteiras. Marcam a actualidade Frederico Gil e Michelle de Brito, a qual, apesar de não ser um «produto de formação» exclusivamente português, não deixa de ter a sua identidade lusa.
JS: Relativamente à actividade da escola de ténis que coordena, refira, em lin
has gerais, aspectos da sua organização e funcionamento.
JCS: A escola de ténis encontra- se organizada segundo um padrão convencional. As aulas, ministradas no sistema de grupo aberto, têm grande aceitação por parte de quem nos procura, contemplando todos os níveis etários. Na próxima época, será implementado em larga escala o mini-ténis, destinado a crianças de 4 e 5 anos. O funcionamento é diário, com encerramento ao domingo.
JS: A procura incide mais no ténis como actividade de lazer ou na sua vertente competitiva?
JCS: Sem dúvida, na actividade de lazer. O António Sabugueiro constitui a excepção, com outros doze jogadores que, a breve prazo, também se lançarão regularmente na competição oficial nacional.
JS: Quais as características essenciais que um jovem deve possuir para triunfar como jogador de ténis?
JCS: Gostar de ténis é essencial; boas aquisições motoras também ajudam… e muito; gosto pelo treino; capacidade de enfrentar o desafio aliciante da competição pura, sem temer a derrota; coragem e determinação na prossecução dos objectivos traçados; por último, grande espírito de sacrifício na busca da melhor «performance» possível, pois isto é um sofrimento permanente dentro e fora do court.
JS: Pensa que o seu pupilo António Sabugueiro, actual campeão nacional sub-12, reúne essas características e usufrui dos apoios suficientes?
JCS: Defino o António numa frase: «um jogador de grande intensidade, possuidor de uma força mental impressionante ». Quanto aos apoios, são ainda insuficientes; temos quase tudo, ao nível de equipamentos e condições de treino, inclusive os de natureza escolar, que permitem compatibilizar os horários das actividades, acautelando, devidamente, o seu aproveita- mento escolar. Exceptua-se o apoio financeiro que permita compensar os gastos com a sua formação técnica e deslocações. O orçamento anual não será significativo para uma instituição pública, ao nível de subsídio, ou, para uma empresa privada, ao nível de patrocínio. Mas para a família é significativo e extremamente pesado. Qualquer potencial investidor terá o retorno garantido, pois estamos perante um atleta promissor, que passa uma excelente imagem dentro e fora do «court».
JS: Que infra-estruturas gostaria de ter ou ver melhoradas no Complexo Desportivo Municipal de Sintra?
JCS: O equipamento, no geral, é bom. Possui uma grande margem de desenvolvimento, a qual poderia ser potenciada com a construção de mais um campo exterior complementada, a norte, com a construção de três novos campos cobertos, melhoramentos que dotariam o CDMS com o melhor equipamento de ténis do concelho de Sintra e um dos melhores do País.
Percurso do jovem António Sabugueiro
Nascido em Lisboa, a 12 de Julho de 1997, António Sabugueiro tem o primeiro contacto com a modalidade no decurso de 2004, através de uma acção de divulgação regional escolar, no âmbito dos eventos «Sintra Juvenil Ténis/Jogos Lúdicos», organizados pelo Complexo Desportivo Municipal de Sintra/CCDS, iniciando posteriormente a sua aprendizagem na Escola de Ténis.
A decisão do Centro de Cultura e Desporto Sintrense, no sentido de o CDMS ter um representante que projectasse a sua imagem no exterior, conduziu à delegação da coordenação técnica em João Carlos Santos, que passou a efectuar uma detecção de talentos junto dos alunos frequentadores da Escola de Ténis, justificando a escolha de António Sabugueiro pelas seguintes razões:
Juventude;
Capacidade de trabalho;
Assiduidade ao treino;
Entrega exclusiva à modalidade;
Investimento dos pais, perspectivando a longo prazo a possibilidade de uma carreira como jogador profissional
Nestes pressupostos, o jovem atleta inicia o seu processo de formação no decurso do ano de 2005. As épocas de 2006 a 2009 são de intensa actividade competitiva, com presença em dezenas de torneios, nos quais obtém resultados desportivos assinaláveis, que justificam a sua convocatória, pela Federação Portuguesa de Ténis, para a Selecção Nacional Sub-12, e culminam com a recente conquista do título nacional da categoria.
texto: B.G.
Sem comentários:
Enviar um comentário